Jimmy Nicol: o baterista que substituiu Ringo Starr no auge da Beatlemania

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Jimmy Nicol, o baterista que viveu 13 dias como um Beatle e depois enfrentou a dura realidade do esquecimento

Por Sandro Abecassis

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Em 1964, no auge da Beatlemania, Ringo Starr teve que ser operado às pressas para a remoção das amígdalas às vésperas de uma turnê que tinha como destino parte da Europa, Ásia e Oceania.

Os três Beatles reuniram-se com Brian Epstein para decidir qual decisão seria mais sensata. A proposta era um baterista substituto; contudo, George Harrison era contra e até chegou a cogitar não cumprir a agenda caso não esperassem pela recuperação de Ringo.

No entanto, o produtor George Martin convenceu o guitarrista, alegando o prejuízo não só financeiro para o grupo e a gravadora, como também para a imagem da banda, tendo em vista que todos os shows estavam com ingressos comprados e esgotados.

Diante disso, George Harrison aceitou e Martin já tinha alguém de sobreaviso. Era Jimmy Nicol, baterista conhecido por tocar com vários artistas e ser um bom músico de estúdio.

Jimmy Nicol convocado

Jimmy Nicol. Alamy

George Martin chamou Jimmy Nicol até o estúdio de Abbey Road sem citar que era para substituir Ringo durante uma turnê. Quando o baterista chegou, o produtor fez o convite com a polidez britânica, algo como “Ringo está doente, você teria interesse em substituí-lo durante alguns shows dos Beatles?”. Obviamente, Nicol aceitou.

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Sendo assim, os três Beatles fizeram um pequeno ensaio com Jimmy e nos próximos dias já fariam o primeiro show na Dinamarca e, em seguida, em Amsterdam, na Holanda.

Um breve documentário mostra os Beatles com Jimmy Nicol na capital holandesa, passeando de barco pelos canais em uma histeria coletiva própria da Beatlemania, com jovens se jogando na água para tentar alcançar o barco da banda e as pontes completamente lotadas.

Jimmy Nicol (de branco) com os Beatles na Austrália.

Jimmy curtia aquele momento, acenando na sacada do hotel e dizem a lenda que, como não era conhecido, arriscou algumas aventuras na famosa zona de prostituição holandesa.

Da Holanda, a banda segue para Hong Kong, onde o músico aproveitou para ir a bares e restaurantes.

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Antes do show na Austrália, Brian Epstein informou a Jimmy que o pagamento seria cerca de £ 2.500 libras por show.

Ao todo foram 13 dias, e o baterista recebeu cerca de 10 mil libras, um relógio e uma placa com agradecimento da banda pelos serviços prestados, o que, para a época, era um valor bastante expressivo.

A volta de Ringo

Ringo retornando para a banda.

Recuperado, Ringo resolveu voar para a Austrália para fazer o restante dos shows no país.

Jimmy Nicol nem chegou a se despedir dos outros Beatles e foi levado direto para o aeroporto. Há um registro onde ele aparece sozinho no terminal esperando seu voo.

Jimmy Nicol: o baterista que substituiu Ringo Starr no auge da Beatlemania
Jimmy Nicol sozinho voltando para casa.

Ao voltar para Londres, o músico sofreu uma crise de depressão. George Martin tentou arrumar contratos para uma banda que Jimmy tinha, mas nada aconteceu e ele acabou se afundando em dívidas nos anos seguintes.

Jimmy saiu da Inglaterra e foi morar no México para tentar viver como músico. Ao voltar para Londres nos anos 70, virou um profissional que reformador de casas.

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Nos anos 80 ele vivia recluso, mas jornalistas o redescobriram e entrevistaram o musico. Sendo assim, ele declarou que a pior coisa que fez na vida foi ter substituído Ringo. 

“Substituir Ringo foi a pior coisa que já aconteceu comigo. Até então, eu estava muito feliz ganhando £ 30 ou £ 40 por semana. Depois que as manchetes morreram, comecei a morrer também.” Contou. 

Jimmy Nicol fotografado há alguns anos.

Contudo, Nicol nunca falou mal dos Beatles ou cogitou escrever um livro sobre o curto período que tocou com a banda. Mas recentemente surgiu uma notícia que sua vida viraria um filme, até o momento nada aconteceu.

Aliás, um fato curioso, o seu filho, Howie Nicol, se tornou um engenheiro de som da EMI. Howie, trabalhou inclusive na produção do projeto Anthology dos Beatles no começo dos anos 90. 

Por fim, para quem curte as histórias dos Beatles um livro essencial é a Biografia de Paul McCartney por Phillip Normam.