Um comportamento mortal no País do “Deixa a vida me levar”.

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O país do Deixa a vida me levar, vida leva eu.

O Brasil vive uma das piores crises dos últimos anos, pandemia, desemprego, mas paciência, afinal o brasileiro já tem frase feita pra isso. “Calma, pra tudo tem um jeito, menos pra morte”, “quem não deve não tem nada”, “foi Deus que quis”. 

O País do “Deixa a vida me levar, vida leva eu”.

Parece que nem vivemos o luto de 3 mil mortos por dia pela COVID-19. Já esqueceram que meses atrás, o Brasil via faltar oxigênio nos hospitais lotados de Manaus, gente morrendo no seco, na porta dos hospitais, em casa, parentes correndo como loucos, se endividando, vendendo carro, até casa, para custear um tratamento para um familiar.

 Afinal, “E daí?”, “Eu não sou coveiro”, “Chega de frescura, de mimimi , vão ficar chorando até quando?”.

No entanto, hoje, você anda nas ruas as pessoas sem máscara, fazendo festa em condomínios, beach clubs, pancadões. Além de Shoppings e centros comerciais lotados, eventos clandestinos, e até festival de rock, o brasileiro como é seu costume já esqueceu. A dona menina tem que ir ao centro comprar uma colcha, porque tá barato. É o País do “Deixa a vida me levar, vida leva eu”.

O brasileiro é o Cândido, personagem de Voltaire, homem otimista, mesmo apanhando, ou em volta às tragédias da vida, aceita sua condição, influenciado pelos conselhos de que tudo leva a um momento melhor do doutor Pangloss, momento este que nunca chegará. 

Em resumo, a aceitação de tudo como deve ser, nascemos assim e pronto, aceite e viva com o que tem, afinal, uma música por muitos anos, incentivada pela grande mídia, virou hino desse tipo de comportamento. 

“Se a coisa não sai

Do jeito que eu quero

Também não me desespero

O negócio é deixar rolar

E aos trancos e barrancos

Lá vou eu

E sou feliz e agradeço

Por tudo que Deus me deu”

O Brasil do Deixa a vida me levar – e tem gente que acredita – coloca na conta do desejo divino a derrota e as conquistas. Não existe educação para incentivar a indignação, ou pelo menos o questionamento, e principalmente, olhar para a história e tomar como lição o que não deve ser repetido, como os Alemães com o nazismo.

Uma das palavras mais longas em alemão é Vergangenheitsbewältigung que em tradução livre para o português significa lidar com o passado, no sentido de aprendizado e reflexão. Vamos precisar de um Vergangenheitsbewältigung.

Mas ainda há sementes, profissionais de todas as áreas, mas principalmente da saúde, pessoas solidárias que tentam de tudo para minimizar o sofrimento do próximo, seja profissionalmente ou através de ações de solidariedade. Por fim, é o que me dá um pouco esperança, pelo menos no microcosmo, se pudermos salvar uma vida que seja, será válido.