“Obla di Obla da”, as origens da amada e odiada canção dos Beatles.
O Álbum branco dos Beatles, disco duplo lançado em 1968, para muitos é considerado melhor do que Sgt Pepper Lonely Hearts Club Band, para outros poderia ter saído no formato de apenas um álbum, e então se tornaria mais fantástico ainda.
No entanto, The White album, é o trabalho que demonstra o talento individual de cada um, a rebeldia, sarcasmo, loucura e doçura de John Lennon em “Revolution”, “Yer Blues”, Sexy Sadie”, “Dear Prudence”, “I`m So Tired” e “Julia”.
Além do despertar do talento de George Harrison como compositor, trazendo “While My Guitar Gently Weeps”, “Piggies”e “Savoy Truffle”
Sem falar da versatilidade de Paul McCartney, em compor rocks como ninguém, a exemplo de “Helter Skelter”, “Why Don’t We Do It In The Road?”, “Birthday” e “Back In The USRR”. A expertise por baladas como, “Blackbird”, e “I Will”. A busca de influência em outras épocas de “Honey Pie” e “Martha My Dear”. E as canções que ficaram conhecidas como Bubblegum, a exemplo de “Obla Di Obla Da”. E sobre ela que vamos falar.
“Obla Di Obla Da”
Paul McCartney se inspirou em uma frase de um amigo para escrever Obla di Obla da, Jimmy Scott, um nigeriano que se estabeleceu na Grã-Bretanha no ano 50 e tinha uma banda. Conforme o próprio Paul conta na biografia de Barry Miles, Many Years From Now:
“Eu tinha um amigo chamado Jimmy Scott, um nigeriano que tocava conga. Costumava encontrá-lo nas boates de Londres. Ele tinha lá as suas frases. Toda vez que nos encontrávamos, ele dizia: “Obla di obla da, life goes on Bra”. Eu adorava essa frase. Em algum ponto da nossa existência vamos achar que ele era um grande guru”.
Paul conta que avisou Jimmy que gostou da frase e que gostaria de usá-la e começou a compor na época que os Beatles estiveram na Índia.
“Foi muito agradável caminhar por aquela trilha na floresta ao entardecer, descendo do centro de meditação, tocando meu violão, e cantando, “Obla di Obla da”, que eu estava compondo. Claro que não tinha nada a ver com meditação, exceto a parte, “Life goes on” (A vida continua”, é só uma historinha sobre Desmond e Molly”. Conforme conta Paul.
As gravações.
“Obla di Obla da”, representou um ponto de atrito entre os quatro, porque Paul insistia na canção e outros achavam a música muito boba. Tanto é que teve 60 takes da música. Paul McCartney queria algo mais lento, até que em um determinado momento, John Lennon, já um pouco mais alto por conta das drogas, pulou no piano e tocou a introdução mais rápida, e assim ficou.
“John estava atrasado e chegou pedindo desculpas e de muito bom humor. Sentou ao piano e, na mesma hora começou a tocar aquela abertura naquele estilo blue-beat. Ficamos satisfeitíssimos com a atitude dele. Aquilo nos deixou ligados e mudou completamente o rumo da gravação.”
No entanto, no livro de Barry Miles, existe a informação que o engenheiro de som Geoff Emerick, desistiu de trabalhar na canção porque não aguentava mais as tensões e os xingamentos no estúdio entre os quatro. Tanto é, que Ringo saiu da banda por algumas semanas por não aguentar o estresse.
George Martin dirigiu a orquestra de metais. Contudo, as confusões eram tantas que a gravadora até agendou uma sessão de fotos para os quatro durante um dia inteiro, que ficou conhecida como The Mad Day Out, pra ver se os ânimos se acalmavam.
The Beatles: veja como estão hoje os locais das famosas fotos feitas em 1968
Tretas jurídicas
Um fato importante, Jimmy Scott chegou a reivindicar direitos sobre a frase, “Obla di Obla da, life goes on Bra”, mas Paul McCartney alegou que era só uma expressão. Paul ficou irritado pelo fato de que a imprensa apoiou Jimmy, inclusive ele chegou a tocar conga em dos takes da música no Álbum Branco, que acabou rejeitado.
Contudo, em 1969 Jimmy foi preso por não pagar a pensão de sua mulher. Sendo assim, ele entrou em contato com Os Beatles para que arcassem com os custos. Paul concordou com a condição da retirada de reivindicação dos direitos da frase na música. Assim foi feito.
Jimmy Scott chegou a participar do álbum dos Rolling Stones, “Beggars Banquet” em 1969.
Então, pra você leitor que não sabia desta história, a música não é tão fofinha assim, e ficou pior. Jimmy Scott morreu de uma forma trágica em 1986, quando voltava de uma turnê com a banda Bad Manners. Ao desembarcar no aeroporto de Londres ele estava com pneumonia. Por ser nigeriano acabou revistado duramente pelos policiais da imigração que o deixaram nu por horas. Por fim, ele piorou, sendo hospitalizado mas morreu dias depois.
