Pink Floyd: “A Momentary Lapse Of Reason”, uma cama para sonhadores, loucos e doentes.

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Pink Floyd: “A Momentary Lapse Of Reason” é o primeiro disco da banda sem Roger Waters.

Por Sandro Abecassis

O primeiro disco do Pink Floyd após a saída de Roger Waters, “A Momentary Lapse Of Reason”, foi lançado em 1987, a partir daí David Gilmour assumiu o protagonismo da banda, e começaram os processos judiciais, mas também é neste álbum que Richard Wright retorna ao Floyd depois do “The Wall”. 

Para entender o Pink até 1987, é preciso ter noção que até aquele momento Roger Waters era o principal compositor da banda, desde “The Wall”, praticamente todas as faixas eram do baixista. 

Semelhante ao sucessor, The Final Cut (1983), onde todas as canções são de autoria de Roger. Aliás, este disco é uma homenagem ao seu pai, que lutou na segunda guerra mundial, assim como todos lutaram no conflito.

O encarte traz a frase: “A requiem for the post war dream by Roger Waters, performed by Pink Floyd” (Um réquiem para o sonho do pós-guerra de Roger Waters, interpretado pelo Pink Floyd).

No ano seguinte, em 1984, tanto Roger como David lançaram trabalhos solos, e em 1985, Waters anunciou sua saída definitivamente da banda, alegando que sua força criativa na banda já estava gasta. 

A gravadora CBS até forçou Roger Waters de gravar um último disco, inclusive ameaçando o baixista de processo, o que não funcionou. A partir daí começava uma outra batalha, pelos direitos sobre o nome Pink Floyd, mas Gilmour e Mason chegaram a um acordo com Roger, quase dois anos depois e Gilmour, Nick e Richard permaneceram com o nome. O próprio Waters até se arrependeu desta batalha judicial, mas continua recebendo direitos.

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Sobre “Lapse Of Reason”.

Richard Wright, Nick Mason e David Gilmour

“A momentary Lapse Of Reason” contou com vários estúdios de gravação, entre eles, um montado em um barco de David Gilmour, chamado Astoria. O Pink Floyd tinha um execentricidade interessante, Nick Mason não começou a gravar o álbum porque se sentia inseguro pelo longo período sem tocar. Então, dois bateristas foram contratados para fazer o trabalho, Jim Keltner e Carmine. No baixo, “A momentary”, traz Tony Levin do Kink Crimson. Além do mais este álbum contou com inúmeros instrumentistas.

Por este motivo o álbum vem carregado de timbres de metais e baterias eletrônicas, bem inserido naquele cenário dos anos 80. Como por exemplo, “Learning To Fly” e “The Dogs of War”. 

O disco levou sete meses para ser concluído envolto na batalha judicial entre Gilmour e Waters. Tanto é que em uma das etapas as gravações aconteceram nos estúdios da A&M records em Los Angeles. 

Outro fato, o álbum possui três faixas instrumentais, a exemplo da excelente, “Terminal Frost”, com suas falas e efeitos sonoros. 

Mas um destaque sempre enriquecedor é a qualidade dos solos de David Gilmour, e que ao mesmo tempo vira uma das críticas recorrentes a este trabalho, é que parecia mais um disco solo de Gilmour, do que propriamente do Pink Floyd. Contudo, o disco encerra bem, a faixa “Sorrow” é uma das melhores do álbum, densa, com distorções e aura lembrando o que foi o Floyd. 

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A Capa

Apesar de tudo, “A Momentary Lapse Of Reason” chegou a vender 5 milhões de cópias, talvez pela curiosidade de como iria se comportar o Pink Floyd sem Roger Waters, e pela capa cheia de camas em uma praia, com um solitário homem lendo um livro.

A inspiração surgiu de uma frase tirada de “yet another movie: “Visions of an empty bed “. Na arte é possível ver uma enfermeira, cachorros, referência de “Dogs Of War”, e “One Slip”, uma asa delta, presente em “Learning to Fly”. E acima de tudo, o nome do álbum é uma clara alusão ao que a banda passava, um momento de reflexão. Tanto é que as camas também significam algo, pois são camas para doentes, loucos e camas para sonhadores. Confira com atenção:

A foto original, que no álbum, editada virou capa e contra-capa. Robert Downling

Inclusive, em 2019 na conta oficial do Pink Floyd no Twitter (hoje X), a banda postou um vídeo dos bastidores da produção, que aconteceu em Saunton Sands, North Devon, Inglaterra, em julho de 1987. Veja:

Por fim, a capa mais uma vez teve a mão de Storm Thorgersen, que trabalhou com a banda em “The Dark Side of the Moon” (1973), “Wish You Were Here” (1975) e “Animals” (1977), a fotografia é de Robert Downling.