Beatles For Sale: o álbum que marcou a transição dos Beatles para um som mais maduro

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“Beatles For Sale”, incluiu canções originais e covers, representando uma mudança na direção musical da banda, que estava se tornando mais madura e sofisticada.

Por Sandro Abecassis

No ano de 1964 a carreira dos Beatles estava em uma linha ascendente. A beatlemania conquistando o mercado fonográfico nos Estados Unidos a partir de fevereiro com a primeira turnê americana, e as participações no “The Ed Sullivan Show”, e a estreia do filme e álbum “A Hard Days Night”, lançado em Julho.

No meio disto tudo a banda tinha o compromisso de produzir mais um álbum para ser lançado no final do ano. Sendo assim, “Beatles For Sale” começou a ser produzido em 11 de agosto, cerca de apenas dois meses após “A hard Days Night” ter sido lançado.

“Beatles For Sale”, é o disco do cansaço em consequência das turnês exaustivas e aparições e gravações para TV e rádio.

Tanto é que o álbum conta com 12 faixas, sendo 6 covers, “Rock And Roll Music”, “Honey Don´t”, “Words Of Love”, “Mr. Moonlight”, “Everybody Trying To be My Baby”, e “Kansas City”, músicas que a banda tocava nos tempos de Hamburgo e Cavern Club.

O álbum teve sua gravação em partes, durante intervalos dos shows. O título significava não que Os Beatles estivessem à venda, mas uma ironia com o comércio em torno da banda. 

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As músicas

A primeira composição própria a ser trabalhada foi “Baby´s in Black”, uma homenagem a Astrid Kichherr falando sobre o luto que ainda vivia pela perda do noivo e primeiro baixista dos Beatles Stuart Sutcliffe, morto em 1962.

A segunda música, “I´m Loser”, John revela que compôs influênciado pelo som de Bob Dylan, no entanto, os rapazes ainda não conheciam o músico pessoalmente, o que vai acontecer somente em 28 de agosto. 

Antes de partirem novamente em turnê a banda grava, “Mr. Moonlight”, e uma outra música que nem acabou não saindo no álbum, chamada, “Leave My Kitchen Alone”, lançada somente em 1994 no anthology. 

Os Beatles partem para os Estados Unidos, e fazem a famosa apresentação no Hollywood Bowl em Los Angeles em 1964, material que acabou sendo gravado por George Martin e lançado como parte de um álbum ao vivo em 1977.

Em 28 de agosto Os Beatles tocavam em Nova Iorque e por intermédio do jornalista Al Aronwitz John, Paul, George e Ringo conhecem Bob Dylan. 

“Existem sete níveis”. 

No encontro, Dylan apresenta os Beatles para maconha o que para Paul McCartney significou uma mudança na sua vida. Como conta em sua biografia escrita por Phillip Norman, “Foi uma honra louca conhecê-lo, tivemos uma festa louca na primeira noite em que nos conhecemos. Achei que tinha encontrado o significado da vida naquela noite”

Paul, chapado, escreveu algo em um papel e entregou para Mal Evans, que depois revelou que estava escrito; “Existem sete níveis”. 

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Dylan imaginava que Os Beatles conheciam a droga, mas naquela época a banda usava apenas estimulantes, cigarros comuns e uísque com coca-cola. 

Por conta do sotaque dos Fab Four, Bob ouvia a frase de “I Want To Hold Your Hand”, como “I Get High” (eu fico alto) e não “I Can´t Hide” (não consigo me esconder), por isso imaginou que Os Beatles se referiam a maconha. 

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Voltando a gravar

The Beatles 1964. Apple Co.

A banda voltou para Londres em setembro, e de volta aos estúdios gravam a música “Every Little Thing” com Ringo tocando um Tímpano no meio da música, “I Don´t To Spoil The Party”, “No Reply” e “What You´re Doing”, música de McCartney no formato pergunta e resposta também entraram neste set.

Os Beatles fizeram uma pequena turnê no Reino Unido. Então, na volta ainda em setembro, gravam “I Feel Fine” e “She´s A Woman”, que não entraram no álbum mas saíram como single. 

Em “I Feel Fine”, John consegue acidentalmente capturar de forma controlada o retorno da microfonia de quando uma guitarra chega muito próxima de amplificador. Assim conseguiu o efeito na introdução da música, e convenceu George Martin e os técnicos de som a usar a invenção na gravação. Algo inovador.

A música que deu mais trabalho foi “Eight Days A Week”, sendo uma das últimas a ficarem prontas, para a criação do título existem controversias de que seria dado por Ringo, mas no documentário The Beatles: Eight Days A Week, McCartney revela que um motorista o levou até a casa de Lennon em Weybridge, e a conversa foi a seguinte: 

“Eu normalmente dirigia até lá, mas o motorista me levou naquele dia e eu disse: ‘Como você está?’ – ‘Oh, trabalhando duro’, disse ele, ‘trabalhando oito dias por semana”. 

“Eight Days A Week” é a primeira canção da música pop com um efeito de fade in, ou seja o som subindo até ficar audível. Sendo assim, o Beatles For Sale é um dos álbuns que trouxe inovações significativas em técnicas de gravação e mixagem.

Covers do Cavern

Como não haveria mais muito tempo para produzir muita coisa, a banda resgatou músicas como “Kansas City/hey hey hey”, de Little Richard, “Rock and roll music” de Chuck Berry, e George Harrison cantou ““Everybody Trying To be My Baby”, de Carl Perkins.

Paul ainda conseguiu resgatar uma canção que compôs nos anos 50 chamada “I Follow the sun”. E a banda gravou o cover de “Words Of Love” de Buddy Holly. 

Em 26 de outubro George Martin começou a mixar o disco em mono. Contudo, ainda deu tempo de Ringo gravar “Honey Don´t” , além de ajustes em “What You´re Doing”. 

O álbum teve seu lançamento em 4 de dezembro no Reino Unido. Antes, os compactos de “I Feel Fine/She´s a Woman” foram lançados, chegando aos primeiros lugares das paradas britânicas. 

Uma curiosidade, o “Beatles For Sale” só foi lançado no Brasil como conhecemos hoje em 1972. Na época, assim como nos Estados Unidos, o álbum virou dois álbuns, “Beatles IV” e “Beatles 65”. 

A Capa

A contracapa. Foto Robert Freemann

Robert Freeman fez as fotos da capa, com os rostos de John, Paul, George e Ringo com uma aparência cansada. O cenário escolhido foi o Hyde Park em Londres, durante o outono. 

Dentro do álbum um trecho do texto do assessor de imprensa Derek Taylor chama atenção:

“Quando, daqui a 20 anos ou mais, uma criança, entendida em música, estiver num piquenique em Saturno, e lhe perguntar quem eram os Beatles – “Você os conheceu na época?” – não tente explicar tudo sobre os cabeludos e sua turbulência! Basta a criança tocar algumas faixas deste LP e logo entenderá tudo. Os jovens do ano 2000 extrairão da música mais sensação e bem estar do que sentimos hoje. Porque a mágica dos Beatles, desconfio, não tem limite de tempo nem idade. Ela venceu todas as barreiras. Acabou com todas as diferenças de raças, idades e classes”. Conforme consta no disco

Por fim, na época devido a corrida espacial, imaginava-se que nos anos 2000 a humanidade poderia habitar outros planetas. Mas uma coisa Derek acertou, a música dos Beatles venceu qualquer barreira de tempo e idade. 

Fonte. Canal Beatles School / Paul McCartney A biografia de Phillip Norma / Livro Anthology.