Pink Floyd: os enigmas do álbum “The Division Bell” de 1994.

Compartilhe

Lançado em 1994, o álbum “The Division Bell” é um obra cheia de enigmas e mensagens religiosas, misturadas a uma sonoridade única do Pink Floyd

Por Sandro Abecassis

O álbum “The Division Bell” do Pink Floyd, é o segundo disco sem Roger Waters, lançado em 28 de março de 1994, a produção veio cheia de mistérios e significados. Os críticos consideraram um álbum fraco, mas na minha opinião é um grande disco do Pink Floyd, não há uma música que fique fora de qualquer playlist.

Mesmo sem a força criativa de Roger Waters, ainda restavam três mentes criadora na banda, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright. A prova disto é começando pela capa do álbum, cheia de controvérsias.

A concepção da capa foi feita por Storm Thorgerson. O artista fez a planejou duas esculturas que foram desenhadas por Keith Breeden e construídas por John Robertson.

Sendo assim, as duas cabeças de 3 metros de metal emergiram em um campo em Cambridge, perto de Rainha Adelaide. As duas faces conversam entre si, mas ao mesmo tempo representam um terceira face, frontal, que seria de Syd Barrett.

Ao fundo na boca da estrutura aparece a catedral de Ely. Ao todo foram duas semanas para conseguirem a luz certa para a foto. A concepção do álbum é sobre comunicação ou a falta dela, assim como o tema “The Divison Bell” teve inspiração nos sinos do parlamento britânico.

Pink Floyd: “A Momentary Lapse Of Reason”, uma cama para sonhadores, loucos e doentes.

Composições de Polly Samson

David Gilmour nesta época tinha acabado de casar com Polly Samson, que colaborou com o Pink Floyd nos anos 70. 

Aliás, Samson participou da composição de seis faixas com destaque para, “Poles Apart”, com homenagen para Syd Barrett e a “High Hopes”, onde Gilmour fala sobre sua infância. 

A música traz um sino persistente marcando uma aura densa. A faixa tem uma produção em 360 º, conhecida por uma tecnologia de transformação como se executasse um som ao vivo. 

O álbum é cheio de referências, como por exemplo citações do juízo final na excelente faixa “Take It Back” um rock com influências dos anos 80, principalmente na sonoridade do teclado de Richard Wright.

A questão biblíca é trazida talvez pelo fato que David Gilmour estava recem convertido ao cristianismo, a frase na quase country/folk, “Lost For Words”, mostra isso,  Because there’ll be no safety in numbers when the Right One walks out of the door” (Porque não existirá certeza nos números quando “O Certo” atravessar a porta). Uma referência clara a Jesus.

Pink Floyd: “Dogs”, uma canção sobre a implacável ganância humana

Um enigma do sinal dos tempos.

No ano de lançamento em 1994, surgiram diversas teorias sobre “The Division Bell”, como por exemplo, a presença do chamado, “Enigma Publius” – onde internautas, basicamente só dos Estados Unidos, afinal, naquele momento o acesso a rede era bem limitado – eram desafiados a resolver um enigma através do endereço alt.music.pink-floyd uma especie de fórum (que ainda está ativo como grupo) no qual os participantes recebiam uma mensagem de alguém chamado Publius que incentivava a desenvedarem um enigma que renderia um prêmio. 

Como na época tudo era basicamente somente texto, os participantes buscavam nos encartes do disco as respostas, ou escavando a região onde estavam as estruturas de metal. 

Usuários começaram a desconfiar da veracidade do fato, mas uma mensagem colocou lenha na fogueira, tinha o seguinte texto: 

“Segunda-feira, 18 de Julho, East Rutheford, Nova Jersey (EUA), aproximadamente 22h30, luzes brancas piscando. Há um enigma, confie”

E tudo deu certo, porque os dados apontavam para o dia de um show do Pink Floyd, e no led do palco eram exibidas as palavras, “enigma” e “Publius”. Portanto o fato estava realmente ligado a banda. 

Em outros momentos o nome “Enigma Publius” também apareceu, como no encarte do relançamento de “A momentary Lapse Of Reason”, em 1994. Igualmente, no DVD Pulse de 1995. 

Nick Mason no seu livro autobiográfico diz que “Publius” era um funcionário da EMI, acostumado a lidar com quebra-cabeças. “Ele estava trabalhando para EMI e sugeriu que um puzzle fosse criado e pudesse ser acompanhado na web. O prêmio nunca foi entregue. Até hoje permanece sem solução”.

Pink Floyd: filme sobre Syd Barrett traz fatos inéditos sobre o músico.

Comunicação com o divino

The Division Bell tem uma temática muito voltada para a comunicação, principalmente com Deus. Neste álbum especialmente pelo fato de Gilmour ao casar com Polly ter se convertido ao cristianismo. 

Sendo assim, a solução do enigma é justamente a falta clara de comunicação da humanidade com o divino por consequência da valorização do materialismo.

O fato está bem presente em “High Hopes”, mostrando os sinais dos tempos em trechos como, “O soar do Sino divisor havia começado no decorrer da Longa Estrada e abaixo do calçamento. Eles ainda se encontram lá pelo Atalho”. 

Ou na possibilidade do encontro com o paraíso, “Olhando através das brasas das pontes que cintilam atrás de nós para ter uma noção de quão verde era do outro lado”.

E a para finalizar, a redenção: ”A luz era mais brilhante, o gosto era suave, as noites de surpresa com amigos ao redor. A névoa da aurora reluzindo. A água correndo. O rio infinito para todo o sempre”.

A Catedral de Ely aparece na boca da estrutura de metal, ficando clara a menção da comunicação com o divino, além do mais as luzes dão este tom.

Para finalizar, “The Division Bell” contou também contou com a participação da voz computadorizada do físico Stephen Hawking, tirada de um comercial de tv onde aborda o poder da comunicação. Portanto, a fala está na música “Keep Talking”, que David Gilmour se inspirou em um texto do cientista para compôr.

Por fim, confira o texto:

“Por milhões de anos, a humanidade viveu como os animais. Então aconteceu algo que desencadeou o poder da nossa imaginação. Nós aprendemos a falar. E nós aprendemos a ouvir. A fala tem permitido a comunicação de idéias, permitindo aos seres humanos trabalhar em conjunto. Para construir o impossível. As maiores conquistas da humanidade surgiram em decorrência da fala. E os maiores fracassos pela falta dela. Não precisa ser desta forma! Nossas maiores esperanças poderiam se tornar realidade no futuro. Com a tecnologia à nossa disposição, as possibilidades são ilimitadas. Tudo o que precisamos fazer é garantir que continuemos conversando.”

Ouça abaixo o álbum completo: