Paul McCartney: versos de ‘Yesterday’ foram inspirados por conversa com sua Mãe

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Conversa que Paul teve com a mãe nos anos 50 influenciou de forma inconsciente os versos de “Yesterday” quase 15 anos mais tarde. 

Aos 81 anos, Paul McCartney desafia a ideia de aposentadoria que ele próprio imaginou aos 64 anos, cuidando dos netos Vera, Chuck e Dave, como expresso na música “When I’m Sixty Four” em 1967. Contrariando essa previsão, sua jornada tomou um rumo diferente, provando ser uma bênção tanto para McCartney quanto para seus admiradores.

Só nos últimos três anos, tivemos o documentário “Get Back” de Peter Jackson, os livros “1964: os olhos do furacão” e “McCartney; as letras”.

E ainda, a produção e conclusão da canção, “Now And Then”, começada em 1994 – aliás por Lennon em meados dos anos 70 – a turnê pelo Brasil que marcou o número de 2 milhões de espectadores no país. Assim como, o podcast, McCartney: a life in Lyrics. Então, por aí você tira, ele pode até diminuir o ritmo, mas parar não. 

Portanto, em um dos episódios de “McCartney: A Life in Lyrics”, Paul compartilha insights sobre a criação de várias músicas, incluindo “Yesterday”, de 1965, revelando detalhes fascinantes sobre o processo criativo por trás dessa canção.

Então, confira:

Os fãs dos Beatles conhecem a história que Yesterday nasceu quando Paul acordou na Wimpole Street com uma ideia na cabeça e foi para o piano compor. No podcast, McCartney revelou que uma das frases da canção surgiu, talvez de forma inconsciente, por conta do episódio que viveu com sua mãe nos anos 50. 

“Alguns me sugeriram que esta era uma canção sobre a perda da minha mãe. O que eu sempre disse: ‘Não, acho que não'”. Comentou McCartney. “Mas quanto mais você pensa sobre isso: “Why she had to go? I don’t know. She wouldn’t say (Por que ela teve que ir? Não sei, ela não diria). Perdendo sua mãe para o câncer, ninguém disse nada. Não sabíamos o que era.”

Paul McCartney: versos de 'Yesterday' foram nspirados por conversa com sua Mãe
Paul. Reprodução Facebook.

No entanto, a frase, “I said something wrong, now I long For yesterday” (Eu disse algo errado, agora anseio pelo ontem), trouxe memórias que podem ter influenciado Paul inconscientemente na época.

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“Lembro-me claramente de um dia ter me sentido muito envergonhado porque envergonhei minha mãe. Estávamos no quintal e ela falava chique. Ela era de origem irlandesa e era enfermeira, então estava acima do nível da rua. Então ela tinha algo a seu favor e falava, o que achávamos um pouco chique” Paul corrigiu a mãe sobre o sotaque do verbo “Ask” (perguntar), que ela deveria falar “Arsk”, com pronúncia diferente. 

“Ela disse algo como ‘Paul, você pode perguntar (ask) a ele se ele vai?’”, conforme lembrou McCartney. “Eu disse: ‘Arsk! Arsk! É perguntar, mãe. E ela ficou um pouco envergonhada. Lembro-me de ter pensado mais tarde: ‘Deus, gostaria de nunca ter dito isso’. E isso ficou comigo. Depois que ela morreu eu pensei ‘Oh, merda, eu realmente queria…’. Tenho algumas dessas pequenas coisas que sei que as pessoas me perdoariam, porque não são grandes coisas. São pequenas coisas. Mas são pequenas coisas que eu acho que se eu tivesse pegado uma (borracha) e apagado aquele pequeno momento, seria melhor. E quando ela morreu, eu me perguntei: ‘Eu disse algo errado’, estamos nos lembrando daquela coisinha maluca?’”

Mais detalhes sobre Yesterday

No livro, “Many Years From Now”, de Barry Miles, Paul revela outros detalhes do nascimento da música. 

“Acordei com uma melodia adorável na cabeça. Pensei: “Que bárbaro! O que será?” Havia um piano de armário à direita da cama, junto da janela. Levantei, sentei ao piano, achei um sol, achei um fá sustenido menor com sétima – e isso leva ao si, ao mi menor e aí, finalmente, de volta ao mi. Tudo avança logicamente. Gostei muito da melodia, mas, porque havia sonhado com ela, não conseguia acreditar que a tivesse composto. Pensei: “Não, nunca compus isso antes”. Mas eu tinha a melodia, que era a coisa mais mágica que se possa imaginar. E aí precisei me perguntar de onde ela veio. Mas não insisti muito, porque senão ela iria embora”.

Paul McCartney: versos de 'Yesterday' foram nspirados por conversa com sua Mãe
Paul McCartney. Reprodução video.

Entretanto, McCartney achava que a música já existia, e saiu consultando as pessoas para tirar essa dúvida. 

“Antes de tudo, fui checar a melodia, e as pessoas disseram: “Não, é linda, e tenho certeza de que é sua”. Levei um tempinho para reivindicá-la, mas aí, feito um garimpeiro, finalmente pus nela uma placa que dizia: “Tudo bem, é minha!” A música não tinha letra. Eu costumava chamá-la “Scrambled eggs”. A letra era: “Scrambled eggs, oh, my baby, how I love your legs…” [“Ovos mexidos, oh meu bem, como eu adoro essa tua perna!…”] Em geral riam quando chegava a esse trecho, eu não precisava de mais letra”. 

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A canção se tornou “Yesterday”, quando Paul viajava com Jane Asher pelas estradas do sul de Portugal. 

“Foi uma viagem longa, quente e poeirenta. Jane estava dormindo, mas não consegui. Quando fico tanto tempo num carro, ou dou jeito de cair no sono, ou minha cabeça começa a funcionar. Lembro que matutei na melodia de “Yesterday” e, de repente, achei essa abertura de uma palavra só. Comecei a desenvolver a ideia: “Scram-ble-d eggs, da-da da. Obviamente, sabia que as sílabas precisavam bater com a melodia: “da- da da, yes-ter-day, sud-den-ly, fun-il-ly, mer-il-ty… Yesterday”. Era isso. “All my troubles seemed so far away.” É fácil rimar aqueles ay say, nay, today, away, play, stay… Há um monte de rimas, e todas se encaixam facilmente, de modo que aos poucos fui juntando a letra durante aquela viagem. “Sud-den-ly”, e aí outra rima fácil: e, me, tree, flea, we. Pronto, eu tinha a base daquilo”. 

Por fim, confira o episódio de “McCartney: A life in Lyrics” na integra.