Nenhum de Nós: conheça a história da música “Camila, Camila”.

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Em 1988, no período mais criativo do rock Brasil, o Nenhum de Nós estourava com o hit, “Camila, Camila”. Vamos conhecer um pouco mais sobre a música.

Por Sandro Abecassis

O melhor período do rock Brasil é sem dúvida os anos 80. Blitz, Paralamas do Sucessos, Titãs, Kid Vinil, Legião Urbana, RPM, Barão Vermelho, Ira!, Plebe Rude, Sepultura, Engenheiros do Hawaii, Capital Inicial, Uns e Outros e o Nenhum de Nós eram as principais bandas.

Um fato curioso, é que naquela ocasião o rock serviu justamente para quebrar uma hegemonia da MPB, que convenhamos, teve nos anos 80 sua pior fase. 

Contudo, ao mesmo tempo, este embrião de bandas serviu como base para profissionalizar cada vez mais a música brasileira, afinal, algumas delas participaram tanto do primeiro Rock In Rio, como também nas edições do Hollywood Rock.

Mas vamos destacar um dos clássicos do rock Brasil desta geração. A música “Camila, Camila”, da banda gaúcha Nenhum de Nós.

O grupo era formado por,Thedy Corrêa, Carlos Stein, Sady Homrich, Veco Marques e João Vicenti, que se conheciam desde o tempo de escola, e como a maioria dos garotos da época, sonhavam em ter uma banda.

Nenhum de Nós.

E como garotos, os amigos iam para festas e vivenciaram alguns momentos bons e outros nem tanto. Como a história que deu origem a “Camila, camila”. 

Thedy Corrêa conta que a letra surgiu quando uma colega viveu um trauma por conta de uma relação abusiva, cheia de violência física e emocional por um namorado. Sendo assim, foi então que começou a composição da música. 

No entanto, o nome “Camila” é fictício, para proteger a verdadeira menina. O titulo da música saiu de um anúncio de um filme argentino, chamado: “Camila, o símbolo de um mulher”, de 1984.

O primeiro verso dá o tom: 

“Depois da última noite de festa, Chorando e esperando amanhecer, amanhecer. As coisas aconteciam com alguma explicação. Com alguma explicação”

Então, a ideia era imaginar “Camila” chegando em casa com aquele sentimento ruim na cabeça e no corpo. E continua:

“Depois da última noite de chuva, chorando e esperando amanhecer, amanhecer. Às vezes peço a ele que vá embora, que vá embora”

A segunda estrofe evidencia que a violência não era isolada e já tinha acontecido outras vezes. 

O refrão meio gritado enfatizando, “Camila, Camila”, é como se fosse ela mesma em busca por si própria.

A duas estrofes seguintes são as mais duras, a garota teme novas agressões, e percebe a existência de ódio no seu agressor. 

Eu que tenho medo até de suas mãos
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega”

“E eu que tenho medo até do seu olhar
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega”

As próximas frases demonstram talvez por vergonha ou medo, o silêncio de quem é agredido, e também demonstra uma provável tentativa de tirar a própria vida.

“A lembrança do silêncio, daquelas tardes, daquelas tardes. Da vergonha do espelho, naquelas marcas, naquelas marcas”

O agressor de “Camila”, além da violência física e emocional ainda vigiava a garota, com um sentimento de posse e controle. Agora se hoje com todas as leis vigentes de proteção as mulheres e adolescentes ainda é crescente este tipo de crime. Imagine nos anos 80.

“Havia algo de insano Naqueles olhos, olhos insanos. Os olhos que passavam o dia, a me vigiar, a me vigiar”

E a estrofe final, a revelação de uma garota de 17 anos, sem força para saber o que fazer, vendo as coisas acontecerem na sua vida sem que ela pudesse de alguma forma se proteger. 

“E eu que tinha apenas 17 anos, baixava a minha cabeça pra tudo. Era assim que as coisas aconteciam. Era assim que eu via tudo acontecer”.

O sucesso

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Nenhum de Nós. Anos 80

“Camila, Camila”, está no primeiro disco do Nenhum de nós, de 1987, mas a música estourou em 1988, virando hit nacional.

Em entrevista a podcast, “Guri de Uruguaiana”, Thedy Corrêa respondeu se eles contaram para verdadeira “Camila”, que a música havia sido feito pra ela. Dessa forma, ele respondeu o seguinte:

“Imagina, essa menina passou por um trauma, que fazia mal ela recordar das coisas que ela tinha passado…a música tocou absurdamente, ela não ia mais poder ouvir rádio, ia andar na rua, ouvir a música, saber que era pra ela, e ela iria revisitar aquele sentimento, aquela experiência, aquela vivência ruim”. Conforme contou.

Por fim, confira um registro da banda tocando “Camila, Camila” ao vivo: