De Nirvana a U2, 1991, um ano de grandes discos de rock.

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O ano de 1991, talvez tenha sido o último ano de grandes lançamentos de discos do mundo do rock e da pop music. Lembre-se, nesta época se dependia apenas da TV, rádio, jornais e revistas especializadas e a MTV para se ter informações sobre bandas. 

Além disso, comprar disco, pelo menos no Brasil, era muito caro. Então, a opção muito comum neste período…esperar a rádio tocar a música para gravar em uma fita e torcer para o locutor não falar em cima da canção.

Em um curto espaço de tempo, durante o ano de 1991, bandas como, Ramones, Guns N´ Roses, Metallica, Pearl Jam, R.E.M, Red Hot Chilli Peppers, Michael Jackson, Nirvana, U2, e no Brasil a Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso, lançaram excelentes discos.  

Então, vamos a eles, cronologicamente:

Ramones – Loco Live (01/03/1991)

De Nirvana a U2, 1991, um ano de grandes discos de rock.

O ano começa com uma porrada na cabeça, Os Ramones na estreia de CJ após a saída de Dee Dee Ramone, lançam o disco duplo ao vivo, Loco Live. Com 33 músicas, tocadas com uma velocidade feroz, gravado em Barcelona na Espanha.

“Blitzkrieg Bop” “The KKK took my baby away”, “Havana Affair” “Cretin Hop”, “Wart Hog”, “I Wanne Be Sedated” e tantas outras tornaram um dos registros ao vivo mais importantes do mundo do rock. Uma curiosidade, Debbie Harry, da Blondie, participou da produção do encarte do álbum. 

Na época a banda era formada por Joey, Johnny, CJ e Mark Ramone. 

R.E.M – Out Of time (12/03/1991)

De Nirvana a U2, 1991, um ano de grandes discos de rock.

Este foi o álbum que fez o R.E.M sair do circuito alternativo e entrar na grande mídia, começando a tocar em rádio. Até então, a banda de Michael Stipe era famosa em emissoras universitárias dos Estados Unidos.

Lançar um disco pop era proposital para que o grupo conseguisse nos próximos anos ter uma projeção e relevância em álbuns mais conceituais no futuro, e de forma retroativa também. Afinal, a partir de Out Of Time, discos como, “Document”, de 1987 passaram a ser mais conhecidos

O álbum emplacou canções como,  “Radio song”, “Losing My Religion” e “Shinny Happy People”, esta última com a participação de Kate Pierson do B´52 e apesar de “bonitinha” tinha uma forma irônica, com criticas a política internacional e principalmente dentro dos EUA. 

Metallica – Black Album (12/08/1991)

De Nirvana a U2, 1991, um ano de grandes discos de rock.

Por incrível que pareça, o Black Album do Metallica é odiado pelos fãs mais exaltados da banda, por ter popularizado o grupo e portanto ter trazido mais fãs. Estranho…

No entanto, o disco não foi produzido a toa, inclusive pelo nome, afinal, na época tanto Kirk Hammett, quanto Lars Ulrich passavam por divórcios e James Hetfield havia perdido recentemente a mãe para o câncer. Sendo assim, as canções traziam um forte sentimento das experiências pessoais e introspectivas dos músicos. 

Canções mais lentas, e com mais arranjos como “Enter Sandman”, “The Unforgiven” e “Nothing Else Matters”, tornaram o Black Álbum um dos mais vendidos do Metallica, chegando a 40 milhões de cópias vendidas mundialmente. 

Pearl Jam – Ten (27/08/1991)

De Nirvana a U2, 1991, um ano de grandes discos de rock.

O “Movimento grunge” já existia, mas se existe uma data para o começo, é com o lançamento de “Ten”,disco de estreia do Pearl Jam.

O álbum tem um contexto de alerta e traz em suas letras além de questões sociais, como por exemplo sobre viver na rua, sem uma casa na música, “Even Flow”, ou sobre o suicídio contando uma história real em “Jeremy”. 

Além de ser autobiográfico, “Alive”,  Eddie Vedder conta que seu pai na realidade era seu padrasto, e o que o verdadeiro havia morrido quando criança. 

Além disso, “Ten”, traz ainda “Black”, canção daqueles que em algum momento sofreram por amor. O álbum todo é bom e ainda é um dos preferidos desta fase grunge.

Guns N´Roses – Use Your Ullusion I  e II (17/09/1991)

De Nirvana a U2, 1991, um ano de grandes discos de rock.

O Guns N´ Roses em 1991 estava em sua melhor fase. Havia passado pelo Brasil no Rock In Rio em janeiro, e todos aguardavam o novo e prometido álbum. Afinal, o último disco da banda foi respectivamente o “Appetite For Destruction (1987)” e o GN´R Lies (1988). 

Foi então que em agosto a banda lançou não um, mas dois discos duplos, os álbuns Use Your Ullusion I e II, azul e amarelo. Na realidade, muito se falou na época que os dois poderiam ter sido condensados em apenas um. Ficando da seguinte forma:

 Tirando do disco 1 com as faixas : “Live and Let Die”, “November Rain”, “Back Of Bitch”, “Don´t Cry (original)”, “Dust N´ Bones”. E do disco 2: “Civil War”, “Yesterdays”, “Knocking on Heavens Door”, “Pretty Tied Up”, “So Fine”, “Estragend”, “You Could Be Mine”, “Don´t Cry”. 

Seria realmente menos caro para os fãs e as faixas restantes a banda poderia ter lançado durante toda a década de 90.

Os Paralamas do Sucesso – Os grãos (20/09/1991)

Apesar dos Paralamas do Sucesso em “Os grãos” terem de certa forma abandonado a fórmula de canções para tocar no rádio. Este álbum conseguiu se diferenciar dos demais por trazer uma sonoridade diferente e uma nova experimentação para o trio. E além disso, o álbum conseguiu emplacar músicas como, “Tendo a lua”, “Trac Trac”, “Sábado”, e “O rouxinol e a rosa”.

Uma curiosidade, apesar das vendas no Brasil não terem sido expressivas, “Os Grãos”, foi um sucesso de vendas na Argentina, talvez pela participação do “hermano” Fito Paez em “Trac Trac”

Titãs – Tudo ao mesmo tempo agora ( 23/09/1991)

“Tudo ao mesmo tempo agora”, dividiu a opinião dos fãs e críticos dos Titãs, uns gostaram, outros não. A verdade é que realmente é um disco controverso, pesado, cheio de letras escatológicas e com teor sexuais. Neste álbum cada um Titã assina sua própria composição.

“Saia de Mim” de Arnaldo Antunes teve o videoclipe vetado pelo Fantástico, uma parte da letra dizia:  “Saia de mim como escarroEspirro, pus, porra, sarro, Sangue, lágrima, catarro”.

“Clitóris” de Nando Reis criava uma analogia entre o órgão feminino e a igreja, “Virgem surja, ah! Surja suja. Corpo surja, oh! Mente surja imunda”.

A banda na época estava tretada com mídia e teve alguns problemas para a divulgação do disco.

No entanto, no circuito do rock Brasil, o “Tudo ao mesmo tempo agora”, se tornou um grande álbum, era tudo que um jovem de 16 anos queria cantar, “Obrigado, de nada, Obrigado, a nada” ou “Eu não sei fazer música. Mas eu faço. Eu não sei cantar as músicas que faço. Mas eu canto”

Red Hot Chilli Peppers – Blood Sugar Sex Magik ( 24/09/1991)

Disparado, “Blood Sugar Sex Magik” é um dos melhores discos do Red Hot Chilli Peppers. Enérgico, com swing, canções pop para tocar em rádio como “Under The Bridge” e “Give It Away”

O álbum marca a chegada do baterista Chad Smith no lugar de Jack Irons, e também de John Frusciante, substituindo Hilele Slovak, morto em decorrência de uma overdose de heroína em 1988.

A chegada de ambos tirou o RHCP do circuito alternativo e trouxe para a banda uma pegada mais pop. Contudo, tornar-se popular não significa tirar os méritos da banda, muito pelo contrário deu ´mais gás para as produções.

“Blood Sugar Sex Magik”, traz canções que vão do, punk ao soul e funk, como por exemplo, “Funky Monks”, “If You Have To Ask”, “Suck My Kiss”.

Ouvir o disco inteiro é uma experiência mágica, principalmente quando chega na mudança da faixa da potente “The Greeting Song” para “My Lonely Man”, com intervalo zero entre as duas, muito bem mixado. 

Nirvana – Nevermind ( 24/09/1991)

Eu já ouvia “Smell Like Teen Spirit” e “Lithium” no rádio, canções de uma banda chamada Nirvana. Mas quando li a matéria sobre a banda escrita pelo André Barcinski em 1991 na Bizz, realmente tudo mudou. A cabeça fez boom o rock farofa voou pelo ar.

O Nirvana trouxe para o rock tudo o que todo jovem de 18 anos precisava, energia, pegada, questionamento, e principalmente que você não precisa ser um mega músico para ter uma banda. 

“Nevermind”, influenciou uma geração, e resgatou um som para que as bandas pudessem sair do habitual para chegar ao topo.

A começar pela capa, o bebezinho Spencer Elden mergulhando em busca de uma nota de dólar. Aliás, ele faria isso mesmo mais tarde, processando a banda pela capa, mas em busca de milhares de dólares. 

No entanto, Kurt Cobain não soube lidar com o sucesso e se afundou cada vez mais nas drogas e acabou se matando em 1994.

U2 – Achtung Baby (18/11/1991)

O U2 vinha de uma popularidade absurda após o lançamento do álbum e filme “Rattle and Hum” de 1988, e sem lançar nenhum álbum, até 1991 quando veio o Achtung Baby.

Um disco em quem Bono assumiu uma espécie de alter ego, “The Fly” (A Mosca), com seus óculos escuros parecendo os olhos de um inseto. 

O álbum flerta com a música eletrônica, multimídia e com letras mais introspectivas. Quem esperava novamente um tom messiânico de “Rattle”, “Joshua Tree” e “Unforgetable fire”, se decepcionou.

Mas “Achtung Baby,” é um excelente disco, trazendo faixas, como “One”, “Mysterious Ways”, “Until The End Of The World”. Além do mais o álbum foi em parte gravado na reunificada Alemanha, em Berlim, onde aconteceram as primeiras produções. 

Michael Jackson – Dangerous (26/11/1991)

Você pode até não gostar de Michael Jackson, mas como artista, ele foi realmente um fenômeno. Tanto que com o álbum “Thriller” de 1982 ele ´já havia batido recorde de vendas. Portanto, em “Dangerous”, Michael tinha moral e podia fazer o que quisesse, e fez.

O álbum traz uma pegada circense e de um parque de diversões a começar pela enigmática capa cheia de significados, acesse aqui a história.  

“Dangerous” traz músicas como “Jam”, “Heal the World”, “Who is it”.  E “Black Or White”, que deu origem a um dos videoclipes mais bacanas do artista, pelo efeito inovador de sobreposição de rostos.

Legião Urbana – V  (15/12/1991)

Em 1991 o brasileiro Ayrton Senna ganhava seu terceiro título mundial da F1 e o Papa João Paulo II fazia sua segunda visita ao Brasil. E o país ainda vivia um rebordosa histórica pelo confisco da poupança do governo de Fernando Collor no ano anterior. 

Neste cenário, não faltavam bandas de rock no Brasil, descendo a lenha na atual política. Como a Legião Urbana, que na época era uma das principais bandas a criticar o sistema político, em canções como “Que País é este”, “Conexão Amazônica”, “Duas Tribos”. 

O “V” foi o disco que precedeu o fantástico “Quatro Estações” de 1989. Naquela ocasião, Renato Russo já sabia que estava com AIDS, e o disco em retrospecto traz uma reflexão pessoal dentro das próprias canções.

Como por exemplo a falta de esperança do brasileiro em “Teatro dos Vampiros” e “O mundo anda tão complicado”, o problema com drogas de Renato na canção “A Montanha mágica”. Além da clássica “Metal Contra as Nuvens”, com 11 minutos, narrando a saga metafórica de cavaleiro, atravessando florestas e enfrentando dragões.

Nesta música Renato transborda sua dor, e revela até uma intenção de ter votado em Collor de Mello em 1989, na frase “Quase acreditei na sua promessa e o que vejo é fome e destruição”. 

E ainda a ressaca emocional da belissima “Vento no Litoral”

Este era o cenário do mundo rock de 1991, bateu saudade!