Renato Russo: os últimos dias do vocalista da Legião Urbana.

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Renato Russo, morreu em 11 de outubro de 1996, mas lançou poucos dias antes da morte do vocalista o disco, “A tempestade”.

Em Janeiro de 1996 a Legião Urbana entrou no estúdio para a gravação daquele que seria o último álbum de Renato Russo com a banda – A Tempestade, ou o Livro dos Dias – com canções escritas durante o período que o grupo ficou sem atividades em 1995.

Renato já convivia com o vírus da AIDS, e somente a família e raros amigos sabiam da doença. Naquela ocasião, já estavam prontas as letras de “A via láctea” e “Clarisse”, sobre uma garota que se automutilava no banheiro com um canivete. Contudo, optaram por deixar a canção Clarisse” de fora do disco, “Aquilo era Renato se pondo na pele de uma menina de 14 anos, era autobiográfico”. disse Dado

Renato Russo: os últimos dias do vocalista da Legião Urbana.
Renato Russo. Legião Urbana produções

Ao todo, “A tempestade” tinha 25 canções prontas, a ideia era lançar um disco duplo, mas estas sobras acabaram originando outro disco, desta vez póstumo, “Uma Outra Estação”. 

Renato ia ao estúdio em raras ocasiões e Marcelo Bonfá lembra de ter se assustado em vê-lo. “Ele estava em um sofá, muito magro. E é incrível porque aqueles discos têm a voz mais fraca nas linhas melódicas mais difíceis”. 

Sem Tempo

O vocalista da Legião gravava tudo quase de primeira, lembra Carlos Trilha, arranjador e produtor da banda, Renato sabia que tinha pouco tempo de vida. 

Em um determinado período Renato se retirou para o seu apartamento e de lá acompanhava a produção do álbum, recebia as fitas DAT, fazia algumas observações, e às vezes, mesmo cansado, passava horas no telefone reclamando com Dado e Bonfá.

O assistente de produção Reginaldo Ferreira, que levava Renato em diversas tarefas diárias dirigindo o seu Del Rey, conta sobre estes dias no livro, “Renato Russo, de Arthur Dapieve”.

“Brigaram muito e fizeram as pazes também, o Dado reclamava sobre o abandono, e o Renato volta e meia dizia – estou doente porra

Os meses seguintes

No dia 2 de março de 1996, quando o jatinho que Os Mamonas Assassinas bateu na Serra da Cantareira matando todos os integrantes, Renato se comoveu e mandou um anúncio no jornal, “Adeus, Mamonas Assassinas, um abraço sincero da Legião”. 

No dia 27 de março de 1996, Renato reuniu os amigos em seu apartamento na rua Nascimento Silva em Ipanema. Dentre os convidados, Alvin L, Fernando Borges, Leo Jaime, Denise Bandeira, Marina e Marco Nanini e Zezé Motta. Renato estava de branco, e Fred Nascimento deu de presente para o cantor o álbum, (What ‘s the Story) Morning glory?”, da banda Oasis.

Renato Russo. Legião Urbana produções

Os amigos ouviram “Natália” e sentiram que aquilo era parte de uma despedida. Os próximos meses seriam drásticos na vida de Renato, mas ele ainda lutava. 

“Renato não era um cara de se entregar, mas o sistema imunológico ia embora com as esburacadas dele. Chegou um momento em que não existiam mais células brancas para combater as infecções”. Conta o Dado. 

Com o agravamento da situação, o pai de Renato veio a ficar ao lado do filho no Rio. Alguns amigos lhe visitavam, como Denise Bandeira, Dado, Marcelo e Léo Jaime. 

Renato dizia para a mãe, Maria do Carmo, “Tudo o que eu fiz de errado e certo eu já conversei com Deus”. 

Por fim, em 8 de outubro, Dado Villa-Lobos e a mulher Fernanda foram visitá-lo, ele estava muito magro, fraco, por um fio, o médico perguntou para ele, “Você sabe quem é este cara aí?” Ele disse, “Ah, é o guitarrista da minha banda”. Dado deu tchau, chorou e ouviu de Renato um “Adeus”. 

Lançamento

O álbum “A tempestade” foi lançado em 26 de setembro de 1996, agora faço um parêntese, lembro na época que as lojas encheram as vitrines com o disco e material promocional, eu comprei, e de cara percebi que algo estava errado com Renato, até então os fãs não sabiam que o vocalista estava doente. 

Uma frase de Oswald de Andrade no CD, dizia tudo, “O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus”. 

Sendo asssim, ao ouvir o disco, os fãs tiveram a certeza. Portanto, destaco três canções, logo na abertura, em “A via Láctea”: 

“Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho. Quando tudo está perdido, sempre existe uma luz. Mas não me diga isso. Hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira. E quando chegar a noite, cada estrela parecerá uma lágrima””

“Natália”, “Vamos falar de pesticidas, e de tragédias radioativas, de doenças incuráveis, vamos falar de sua vida. Preste atenção ao que eles dizem, ter esperança é hipocrisia. A felicidade é uma mentira, e a mentira é salvação”. 

E a canção que fecha o disco, “Esperando por mim”, uma comovente despedida. Digam o que disserem. O mal do século é a solidão, cada um de nós imerso em sua própria arrogância.Esperando por um pouco de afeição. Hoje não estava nada bem, mas a tempestade me distraiu. Gosto dos pingos de chuva,dos relâmpagos e dos trovões”

“Renato Manfredini Júnior, morreu em 11 de outubro de 1996.